Conversa com a minha mãe

Por Denise de Moura - 13/09/2017

Quinze de agosto, uma terça-feira! Paro tudo o que estou fazendo e vou passar o dia com a minha mãe. É o seu aniversário.

Quando chego, ela diz: tem certeza disso? Você tem muita coisa para fazer. O dia inteiro no shopping, almoçando e vendo vitrines? Não vai atrapalhar?

Olho para ela, com seus 82 anos bem vividos e digo: às vezes gasto cinco minutos do meu dia com questões que não agregam em nada, e não vou passar o dia com a minha mãe, que tanto me ensinou a ser o que sou hoje?

E assim vamos ao shopping. Quando começamos a almoçar resolvi ter com ela aquela conversa que só vemos na televisão nos programas de entrevista. Lancei então a primeira pergunta que pode parecer muito clichê, mas ali, no restaurante, sem câmera nem microfone, era apenas uma conversa entre mãe e filha.

Mãe, como você se sente com seus 82 anos? Algum arrependimento?

“Arrependimento, filha? Nenhum. Mas teria agido diferente em algumas situações se tivesse a maturidade de hoje. Quando jovem fui aprender a tocar acordeon. Era um instrumento que eu sempre amei. Mas num belo dia a professora me disse: você nunca tocará bem um instrumento como este. Será muito esforço com pouco resultado. Eu infelizmente acreditei e larguei. Depois que me aposentei resolvi aprender novamente. Foi bem mais difícil, é claro, mas me senti extremamente realizada".

"Filha, sempre vai haver alguém dizendo que não podemos fazer algo ou que não temos talento. Não podemos ter rancor destas pessoas. Realmente não temos talento para tudo. Isto é fato. Mas o mais importante é se questionar: será mesmo que eu não posso fazer isto? Onde estou errando? Lembre-se, se é isto que você realmente quer fazer, se você sente alegria em pelo menos tentar, deve continuar mais um pouco e mais um pouco, ou ainda mudar a estratégia, mas nunca desistir”.

Precisei dar uma pausa antes de fazer a próxima pergunta. Aquelas palavras traziam muitas reflexões...

Após alguns minutos parti para a próxima pergunta: De todos os seus feitos, o que você mais se orgulha?

“Com certeza, nunca ter abandonado os meus princípios. Não tem coisa melhor do que colocar, toda noite, a cabeça no travesseiro e ter a certeza de que você fez o melhor que pôde em tudo e, principalmente, que não infringiu nenhum princípio seu e nem o do outro. Não há coisa mais importante na vida do que você ser reconhecido pela ética no trabalho e integridade no comportamento”.

Minha mãe foi professora de história. E até hoje há alunos que a param na rua e dizem: a senhora mudou a minha forma de pensar. Sem a senhora eu não seria o que sou hoje. Isto para mim é deixar um legado, e a minha mãe deixou, buscando sempre fazer o melhor em sua profissão e a diferença na vida das pessoas. Lembro-me que ética, moral, princípios eram sempre debatidos na mesa do jantar com a família e na sala de aula com seus alunos.

E por fim, como se já soubesse a resposta, questionei. Então você se sente plenamente realizada...

“O que significa se sentir plenamente realizada? Eu sou feliz porque não tenho arrependimentos. A vida é muito curta. Se você não realizar agora, não realizará depois. Uma das piores doenças é a procrastinação. Quando somos jovens sempre achamos que podemos deixar para mais tarde. Infelizmente, o “mais tarde” chega e você não faz. A frustração por algo que nem tentamos é muito maior do que a frustração por algo que não deu certo. Se as pessoas querem realizar algo, precisam tentar. Eu tentei muitas coisas. Umas deram certo, outras não, mas o mais engraçado é que não me arrependo de nada das coisas que tentei e fracassei. Isto virou aprendizado”.

Olho para suas mãos. Quantas histórias para contar... Podemos levar todas elas para o mundo corporativo: analisar com criticidade o “não” que recebemos no trabalho; ser o melhor em nossa área de atuação e íntegro em nossas atitudes e evitar a procrastinação. Muitos sonhos que deixamos de realizar ou pelo menos de tentar hoje, podem gerar frustrações futuras.

O almoço já estava terminando. Veio um lindo bolo. Cantamos parabéns e fomos tomar um café. Tenho muito orgulho da minha mãe.