Balancear trabalho e vida pessoal é um mito?

Por Denise de Moura - 11/12/2014

De acordo com Ron Friedman, autor do livro The Best Place to Work: The Art and Science of Creating an Extraordinary Workplace (O melhor lugar para trabalhar: a arte e a ciência de criar um local de trabalho extraordinário), nos dias atuais torna-se praticamente impossível balancear trabalho e vida pessoal. Na visão dele, isto não passa de um mito.

Se pensarmos bem, muitos de nós não paramos de trabalhar nunca. Chegamos a casa pensando no que aconteceu durante o dia. Tomamos banho com foco em novas ideias para o trabalho. Fazemos ginástica ou pegamos os nossos filhos no colégio, mas nossa cabeça está na apresentação que precisamos fazer no dia seguinte para os clientes. Levamos horas nos meios de transporte para chegar ou voltar do trabalho.

Quando estamos prestes a dormir, aquele dia exaustivo acaba vindo à tona em nossos pensamentos, sobretudo se estamos envolvidos em problemas ou preocupações.

Somado a isso, Friedman alerta para um aumento considerável de empresas, cujos colaboradores trabalham em diferentes fusos horários, e, portanto, não param nunca.

Para acabar de vez com o mito de tentar balancear vida pessoal e profissional, o autor propõe que as empresas busquem soluções inovadoras, como a flexibilidade de horários. E ele explica os motivos:

Organizações que ainda acreditam que a diminuição do grau de supervisão sobre os funcionários reduz o esforço dos mesmos está remando contra a maré, sobretudo nos dias atuais. Diversos estudos mostram que o oposto é verdadeiro. Quando um funcionário tem controle sobre sua agenda, ele fica mais estimulado, produz um trabalho de melhor qualidade e desenvolve uma maior lealdade à sua empresa, afirma Friedman.

Por que deixar os funcionários trabalhando por horas rígidas, se eles podem ser mais eficazes em determinados momentos do dia? Horários de trabalho flexíveis permitirão que eles alavanquem os seus resultados nas horas em que se sentem mais produtivos, ao invés de ter que se adaptar à rudimentar oito horas estabelecidas originalmente para maximizar a produtividade das fábricas.

Estudos também mostram que profissionais que trabalham em horários flexíveis produzem mais intensamente. De acordo com o autor, isto acontece porque como seres humanos, somos motivados por uma norma de reciprocidade. Quando um gerente nos concede a liberdade de um horário flexível, buscamos "pagar" esse benefício com dedicação e comprometimento.

Somado a isso, o trabalho flexível oferece outro benefício fundamental: permite aos funcionários resolver assuntos pessoais importantes quando necessário, de tal forma que, quando estão no escritório, por exemplo, o seu foco e concentração se tornam maiores, ampliando a satisfação com suas atividades, aumentando a sua produtividade, diminuindo o estresse e reduzindo os conflitos entre o trabalho e a família.

Infelizmente ainda vivemos em um mundo em que é totalmente aceitável interromper nossa vida pessoal para nos dedicarmos ao trabalho quando assim for necessário, mas não é nada confortável quando precisamos de um tempo pessoal maior e, assim interrompemos o trabalho.

O que as organizações precisam pensar é em oferecer aos seus funcionários um conjunto claro de metas / desafios e confiar a eles o gerenciamento do seu tempo de forma responsável.

Qual profissional não se sente satisfeito quando produz com eficiência, mas ainda assim pode fazer uma ginástica, visitar um parente doente, assistir à peça de teatro do filho ou fazer um jantar surpresa para o marido/esposa?

O importante não é tentar balancear vida pessoal e profissional, mas integrá-las de forma que ambas tenham sucesso, conclui Ron Friedman.

A entrevista completa com o autor dada à rede de televisão americana CNN pode ser acessada aqui.