Não venda uma ideia. Venda uma nova forma de pensar!

Por Denise de Moura - Foto: Dr. Semmelweis - 02/08/2014

Se você está tentando vender uma ideia ou um produto que acredita ser a chave para solucionar diversos problemas do seu cliente ou da sua empresa, mas não tem obtido sucesso, fique atento! Talvez você precise mudar a sua estratégia de abordagem.

De acordo com Mark Bonchek, CEO da SHIFT Academy que ajuda empresas a criar estratégias de engajamento com base na atração, para vender uma nova ideia é preciso mudar não só O QUE os executivos, compradores ou usuários pensam, mas COMO eles pensam. Sem o modelo mental correto, eles não vão ver o problema, entender os benefícios, ou fazer a mudança e, assim, “comprar” a sua ideia ou o seu produto.

Os modelos mentais são a lente através da qual vemos o mundo. Para entender o poder destes modelos, vamos tomar como exemplo a grande descoberta do Dr. Ignaz Semmelweis em 1840.

Entre 1652 e 1862 foram registradas 200 epidemias da febre puerperal – doença que causava a morte das mães logo após o parto e, frequentemente, os bebês também morriam com sintomas parecidos.

O interessante é que a enfermidade só ocorria nos hospitais – os partos realizados em casa por parteiras raramente eram seguidos pela febre.

O Doutor Semmelweis – um médico húngaro de origem alemã – descobriu, através da eliminação de inúmeras hipóteses, que a incidência de febre puerperal poderia ser cortada drasticamente pela desinfecção das mãos em clínicas obstétricas.

Ele então compartilhou suas descobertas com seus colegas a fim de introduzir a lavagem das mãos como uma prática padrão. Porém, suas ideias foram rejeitadas pela comunidade médica. Alguns médicos chegaram a se sentir ofendidos com a sugestão de que eles deviam lavar as mãos e o Dr. Semmelweis não conseguiu oferecer nenhuma explicação científica aceitável para suas descobertas. Em 1865, ele foi internado em um asilo, onde morreu aos 47 anos, sem ter conseguido “vender” a solução de um problema que matou muitas mães e crianças.

Por que o Dr. Semmelweis não conseguiu convencer as pessoas de sua inovação?

Conforme as análises feitas por Mark Bonchek, o modelo mental da doença, em 1840, era um desequilíbrio de quatro “humores” do corpo, tais como catarro, bile e sangue. Com este modelo mental, os colegas de Semmelweis não podiam ver como a lavagem das mãos afetaria a saúde de uma pessoa.

Algumas décadas mais tarde, o cientista francês Louis Pasteur provou que os germes, não os “humores”, foram a principal causa da doença. Com este novo modelo mental, os médicos conseguiam entender como a lavagem das mãos afetaria a saúde do paciente e, assim, a higiene pessoal tornou-se um novo padrão de atendimento. A solução do Dr. Semmelweis foi aceita em toda a comunidade médica porque Pasteur conseguiu dar uma nova visão a ela. Infelizmente Semmelweis não estava mais vivo para ver isto.

Como então convencer as pessoas das nossas novas ideias ou novos produtos?

Em primeiro lugar é importante ter em mente que a mudança de pensamento requer desafiar o modelo vigente e, por este motivo, trata-se de uma batalha bastante difícil com inúmeras resistências pela frente. Não crie expectativas de que as pessoas concordarão ou aceitarão suas ideias da primeira vez que você as expuser.

Os próximos passos foram descritos por Mark Bonchek como um processo de 3 etapas: Presente, Futuro e Transição.

Presente: o processo de mudança / inovação vem através de um incômodo. Se você está incomodado com algo a ponto de pensar: “será que as pessoas não conseguem ver este problema que parece óbvio para mim?” então é neste momento que você precisa entrar em ação. Se as pessoas não conseguem ver o que está claro para você, talvez elas estejam operando um modelo mental diferente do seu. Ao tentar levar as pessoas a ver um problema ou uma oportunidade, o foco está em interromper o modelo mental existente.

Futuro: você já sabe o que precisa mudar. Talvez as pessoas reconheçam o problema, mas não conseguem ver como a sua solução poderia resolvê-lo. Esta foi a situação enfrentada pelo Dr. Semmelweis em seu hospital de Viena. As pessoas concordaram que a mortalidade era um problema, mas eles não podiam ver como a lavagem das mãos faria a diferença. Se você está tentando fazer com que as pessoas entendam os benefícios da sua solução, o foco é pensar uma forma que revele por que a sua solução seria eficaz.

Transição: as pessoas podem reconhecer o problema e o valor da sua solução, mas não conseguem fazer a mudança. Neste caso, o foco deve estar em definir um roteiro que explique a elas como fazer para caminhar de onde estão para onde desejam chegar.

Não pense que este processo é fácil. Mudanças de pensamento não acontecem da noite para o dia. De acordo com Mark Bonchek, ela funciona como a aprendizagem de uma segunda língua ou a construção de um novo hábito. As pessoas precisam ver como a nova maneira de pensar se desenrola em diferentes contextos e situações. É por isso que elas precisam ser explicadas antes de serem aceitas.

A partir de agora, se você deseja ou precisa mudar modelos mentais dos seus superiores, equipes ou clientes foque na construção de uma nova forma de pensar e não na ideia em si. Talvez você obtenha resultados muito mais satisfatórios.